* O ser humano na Lua
A MAIOR FAÇANHA TECNOLÓGICA DA HISTÓRIA: O SER HUMANO NA LUA
Provavelmente a façanha tecnológica de mais forte lembrança na história sejam as primeiras viagens de seres humanos à Lua. O Século XX foi um século revolucionário. Nunca num período tão curto aconteceram tantas mudanças que alteraram o destino da Humanidade. Alguns opinam que nos últimos 100 anos houve mais avanços que nos 1000 anos anteriores.
Foi no Século XX que aprendemos a voar. Em 1927 Lindberg voou de Nova York a Paris sem paradas. Em 1947 Chuck Yeager quebrou a barreira do som com o X-1 e para a década de sessenta milhões de pessoas voavam de um continente a outro em grandes aviões de passageiros impulsados a jato.
No Século XX se desenvolveu a eletrônica, que mudou o nosso dia a dia. Em 1901 Marconi inventou o rádio. Depois vieram a televisão, os transistores os computadores eletrônicos, os microchips, e as transmissões via satélite.
Foi também nesse século que a engenharia atingiu um nível em que deixou definitivamente de ser um ofício de artesãos e se converteu em parte central da sociedade moderna. O uso do método científico, de matemática avançada e de novas e revolucionárias técnicas de administração possibilitaram construir obras sem precedentes. Assim nasceram maravilhas como o Canal de Panamá, sistemas de rodovias, pontes kilomêtricas, os arranhacéus e até cidades inteiras, como Brasília, com investimentos bilionários, milhares de operários e anos de esforço.
Mas tudo este avanço tecnológico, por causa de uma característica dos seres humanos, também foi utilizado para destruir. Começamos com a baioneta até chegar na bomba atômica. Em 100 anos, morreram mais pessoas em guerras do que nos 1000 anos anteriores.
Para metade do século, duas grandes superpotências, como nenhuma vista antes na história, dividiam o Mundo: Os Estados Unidos e a União Soviética. Separadas em culturas diferentes, sistemas econômicos e de governos opostos, e em continentes diferentes, estavam na chamada Guerra Fria. Para 1957 a situação era tão tensa que ambas se ameaçavam mutuamente com milhares de bombas atômicas. E naquele ano, os soviéticos mostravam ao mundo sua mais nova arma: o míssil balístico intercontinental. E o faziam de maneira espetacular: colocando em órbita, em 4 de outubro, o primeiro satélite artificial do mundo, o Sputnik 1. Este artefato de metal de tamanho um pouco maior que uma bola de basquete e 84 kg de peso dava uma volta ao redor do mundo em 1 hora e meia, passando por cima das principais nações da Terra, inclusive os Estados Unidos. Um mês depois a imaginação das pessoas subia ainda mais com o lançamento do Sputnik 2, que levava um ser vivo ao espaço: a cadela Laika. Muitos ja começavam a falar sobre o dia do próprio ser humano se aventurar no espaço não estava longe. Mas para os americanos, o que estava claro era que se os soviéticos o quisessem, eles poderiam utilizar esse mesmo míssil para lançar armas atômicas até o coração dos Estados Unidos, e não haveria maneira de impedir isso. Por isso começaram uma frenética corrida de alcançar e superar os soviéticos na área de mísseis militares e na própria utilização do espaço para "os fins nacionais".
Em 1958 o presidente Einsenhower cria a Administração Nacional da Aeronáutica e do Espaço, a NASA. Uma de suas obrigações é a de cuidar dos interesses americanos no espaço e desenvolver a tecnologia e os programas para conseguir isto. Como primeira medida, foi encarregado a ela o projeto mais ambicioso do momento: um homem no espaço, conhecido como projeto Mercury.
Mas em 12 de abril de 1961, mais uma vez os soviéticos surpreendem o mundo. Yuri Gagarin da uma volta à Terra em 108 minutos, na cápsula Vostok 1. Para os americanos a situação era crítica. O fato era sem dúvida histórico, um grande triunfo do ser humano, mas também demonstrava que os mísseis soviéticos eram mais poderosos e presumivelmente mais confiáveis que os mísseis americanos. E ainda mais: a União Soviética sempre foi considerada um pais de camponeses, atrasado, com um sistema político e econômico que não poderia dar certo. O regime de Nikita Khruschev fez propaganda intensa acima de pontos chaves: que agora a ciência e a tecnologia soviéticas eram as mais avançadas do mundo. Que o comunismo produzia melhores resultados que o capitalismo e a democracia liberal. Que, em vista disto, todos os países do mundo eram convidados a seguir o caminho do comunismo sob a liderança político-econômico-militar da União Soviética.
Para 1961 os Estados Unidos tinham uma outra administração. John F. Kennedy, para muitos historiadores um dos melhores presidentes na história desse pais, percebeu imediatamente qual era a situação. Não era apenas uma questão de imagem e propaganda, mas muito mais. Ele falou de uma nova fronteira que estava se abrindo ao ser humano, um novo oceano: o espaço exterior. Advertiu acerca do perigo do domínio soviético desse novo oceano, de que seja utilizado com fins militares para ataques ao território americano para os quais não haveria defesa; do perigo de os Estados Unidos perderem a liderança para a União Soviética, naquela turbulenta década de 60, caracterizada pela expansão do comunismo no Terceiro Mundo; e da necessidade de manter a competência científica e tecnológica dos Estados Unidos. Ele disse que em qualquer lugar que os seres humanos devam ir, homens livres também devem estar lá. Por isso, propôs um compromisso extremamente audacioso: "pousar um homem na Lua e traze-lo de volta para a Terra com segurança." (Mensagem Especial ao Congresso dos E. U. A. sobre Necessidades Nacionais Urgentes, 25 de maio de 1961, John F. Kennedy Presidential Library and Museum, Boston). Propôs ainda faze-lo antes do final da década, numa época em que apenas um americano tinha ido ao espaço, por escassos 15 minutos. Recebeu um apoio quase unânime, e assim surgiu o maior projeto de engenharia da História: o programa Apollo.
Finalmente, chegou a hora de passar da ficção à realidade: Como ir para a Lua? Pior ainda: Como ir para a Lua e voltar? Para ir era necessário um foguete, mas para voltar era preciso mais um outro que deveria ser levado até a superfície lunar. E como pousá-lo, pois na Lua não era possível usar paraquedas, como nas naves Mercury, porque a Lua não tem atmosfera? Os melhores especialistas ocidentais pensaram em três principais métodos:
A mais óbvia, uma viajem direta, onde um colossal foguete levaria uma enorme nave espacial, que desceria usando motores para lutar contra a gravidade da Lua, freando até um pouso suave, e cuja parte superior seria lançada de novo para fazer o caminho inverso, escapando da Lua e voltando para a Terra. O grande problema seria todo aquele combustível que seria usado para a descida e depois a partida da superfície lunar. Como se sabe, num foguete até 95% da massa é combustível, e fazendo as contas para uma nave de três astronautas (equipe ideal para uma perigosa viajem de uma semana que exige alerta constante) a massa total da enorme nave espacial era de umas assustadoras 75 ton. A construção do colossal foguete lançador que seria necessário para ela, mesmo que teoricamente não impossível para a época, estava tão cheio de complexidades que não seria possível faze-lo funcionar antes do final da década.
O segundo método era aparentemente mais fácil e razoável. A enorme nave espacial seria lançada leve e abastecida em órbita ao redor da Terra, que é 2/3 do caminho andado até a Lua, não em termos de distância mas em termos de esforço. Posteriormente esta receberia o impulso de 1/3 que falta para chegar na Lua. Dois grandes foguetes seriam utilizados, porém menores que o colossal foguete (batizado de "Nova") do método anterior. Um problema era que o segundo dos dois foguetes devia decolar apenas dias depois do primeiro, encontrar-se com ele e abastecer-se dele. E ainda estava a necessidade de desenvolver a enorme nave espacial de 75 ton. Tudo isto era tecnicamente muito complicado, e se pensava que as dificuldades não poderiam serem resolvidas antes do final da década.
O terceiro método, chamado de encontro em órbita lunar, era mais audacioso ainda. Implicava descer e sair da Lua usando "degraus". Descer uma nave até uma órbita ao redor da Lua e depois sair dela era apenas um terço do esforço. Os outros dois terços poderiam serem realizados por outra nave, pequena, um "módulo lunar", projetado apenas para levar os astronautas até o solo por somente um par de dias. Ela não conseguiria voltar até a Terra, apenas subir um "degrau" até uma órbita ao redor da Lua, onde a nave-mãe, ou "módulo de comando", estaria esperando. As duas naves somadas pesariam 45 ton, quase metade da enorme nave espacial dos outros métodos. O problema porém, continuava a ser o encontro e acoplamento de duas naves em órbita no qual, para acontecer, as órbitas devem ser exatamente iguais, precisando de cálculos dificílimos em tempo real, porque as naves estão em movimento e a grande velocidade. Mas não era preciso nenhum reabastecimento de combustíveis. Em 1962 esse último método foi o escolhido.
Já com a configuração e massa das naves definida, agora era preciso arrumar um veículo de lançamento para elas: 45 ton em órbita lunar era muito diferente de 1,8 ton em órbita terrestre, que era o que os americanos estavam fazendo naquela época com o projeto Mercury. O gigantesco Saturn V ( como foi chamado) foi o maior, mais pesado e mais poderoso foguete construído até hoje. Projetado no Centro Espacial Marshall, em Huntsville, Alabama, sob a direção de Wernher von Braun (projetou as V2 dos nazistas e fez o lançador do primeiro satélite americano) tinha 111 metros de altura, pesava quase 3000 ton e tinha uma potência de não menos de 180 milhões de cavalos. O último de seus 3 estágios era capaz de atingir 40 000 km/h.
Antes dos seres humanos pousarem na Lua, era preciso saber se era possível fazer isto em primeiro lugar. A Lua é um mundo estranho, diferente da Terra, e se existiam as mínimas condições de pousar uma nave tripulada de várias toneladas, tudo era um mistério. A NASA, junto com o Laboratório de Propulsão a Jato do Instituto de Tecnologia da California, enviou com sucesso várias sondas robô entre 1964 e 1968 à atração lunar. A primeira série foram as Ranger, que depois de vários fracassos, conseguiram atingir a Lua televisionado a queda com várias câmeras. Estas imagens de perto mostraram detalhes finos nunca antes vistos pelos seres humanos, pois nem com os melhores esforços telescópicos desde a Terra era possível distinguir crateras ou montanhas de menos de varias centenas de metros. O seguinte passo foi pousar pequenas naves suavemente, para testar as técnicas e fazer uma avaliação da consistência do terreno, suas propriedades térmicas e químicas; isto foi feito pelas Surveyor. Finalmente, o terceiro passo era fazer mapas detalhados da superfície lunar, procurando os melhores locais para pousos tripulados; a missão foi encomendada a varias naves Lunar Orbiter. Todas elas mostraram que o pouso das Apollos era possível, se bem que não seria brincadeira de crianças.
Para desenvolver e testar a tecnologia e os métodos que seriam usados pelas Apollo, especialmente o encontro em órbita, a habilidade dos astronautas de trabalhar fora das naves e a resistência em viagens de até duas semanas no espaço, foi montado um projeto intermediário: o projeto Gemini. Lançados em duplas em naves derivadas das Mercury, em 10 missões tripuladas os astronautas quebraram uma série de recordes e pela primeira vez os Estados Unidos passaram na frente da União Soviética. Agora sim chegava a hora das Apollo.
Para 1967 estavam terminadas e prontas para os testes de vôo duas das máquinas voadoras mais complicadas que se têm construído. Especificado pelo Centro Espacial Johnson e desenvolvido e construído pela North American Aviation - Rockwell, o Módulo de Comando e Serviço da Apollo, com massa total de 29 toneladas, na verdade se dividia em duas partes: a primeira, a cápsula, um cone com espaço para os 3 astronautas e os computadores digitais e outros sistemas, estava equipada com um pesado escudo térmico e grandes paraquedas, pois seria o módulo de reentrada à Terra; a segunda, acoplada à base da cápsula, um grande cilindro, o Módulo de Serviço, levava os tanques com o combustível e o grande motor para descer até orbita lunar e sair dela na hora de voltar para a Terra, além de geradores de eletricidade e sistemas de comunicação. A outra nave, o Módulo Lunar, também especificado pelo Centro Espacial Johnson, e desenvolvida e construída pela Grumman, era uma estranha nave em forma de aranha, de 15 ton, também com duas partes: o estágio de descida, com as pernas, um motor de empuxo regulável e toneladas de combustível para frear a descida até a superfície lunar; e o estágio superior, com computadores, sistemas de manutenção de vida para os dois astronautas e um motor para devolve-los à orbita lunar (um motor sem outro de reserva para uma função de vida ou morte). No final, o produto máximo dos engenheiros aeroespaciais eram comparáveis a um submarino nuclear enfiado dentro de uma Kombi.
Enquanto essas naves eram construídas na California e em Long Island, respectivamente, em Mississippi eram testados, com barulho incrível, mais do que de trovão, os dois maiores dos três estágios do Saturn V. O primeiro, chamado de S-IC, foi contratado à Boeing a ser construido em Louisiana e tinha 42 m de altura por 10 m de diâmetro. Os cinco motores F-1 construídos pela Rocketdyne em California queimavam 13 ton de querosene e oxigênio líquido por segundo. O segundo estágio, S-II, tinha 25 m de altura, foi construído pela North American Aviation - Rockwell e os cinco motores Rocketdyne J-2 queimavam hidrogênio e oxigênio líquidos criogênicos. O terceiro e menor estágio, S-IVB, foi construído e testado pela McDonnell-Douglas em California e seu único motor J-2 queimava também hidrogênio e oxigênio líquidos criogênicos, a mistura combustível mais poderosa conhecida. Acima do S-IVB de quase sete metros de diâmetro, e separadas por um anel de 24 locações que continha o computador IBM e acessórios (montado em Alabama) para controlar o gigante, se colocariam o Módulo Lunar e acima o Módulo de Comando e Serviço. Com os astronautas no topo, seriam arremessados a 11 km/s em direção à Lua. Logo depois do lançamento as duas naves se acoplariam e continuariam a viagem como uma só.
As missões seriam controladas de um novo centro construído por um preço multi-milhonário em Houston, Texas. Nesse centro, chamado depois Centro Espacial Johnson e que entrou em operação na metade da década, além de tomar conta do projeto das naves, também seriam treinados os astronautas e seriam analisadas, sob estrita quarentena, as amostras lunares por eles trazidas. Contava com sistemas de comunicação via antenas parabólicas ao redor do mundo e sofisticados computadores para guiar as naves. Na Flórida, no entanto, era construída a base de lançamento, um porto para começar a viagem. No novo Centro Espacial Kennedy estaria o maior prédio do mundo em volume, de mais de 50 andares de altura com uma área de base de mais de 3 quarteirões, onde os estágios do Saturn V vindos principalmente de navio seriam montados um acima do outro, interconectados elétrica, hidráulica e pneumaticamente entre eles e com as naves Apollo. Agora o veículo completo seria testado intensamente. Duas rampas de lançamento foram construídas na beira da praia, a cerca de 6 km de distância do prédio de montagem e das salas de controle. Para levar os Saturn V / Apollo montados até lá, gigantescos veículos com lagartas foram especialmente desenvolvidos.
No inicio de 1967 começariam os vôos de teste. Apollo 1 com Gus Grissom, Ed White e Roger Chaffee, devia testar o Módulo de Comando e Serviço em órbita ao redor da Terra. Num teste no solo semanas antes do vôo, no topo de um foguete Saturn 1B, a cápsula pegou fogo. Os 3 morreram. Foi uma tragédia para os americanos: os primeiros astronautas em morrer numa missão, e pior, antes dela começar. O programa Apollo sofreu um sério atraso: um ano e meio para estudar o problema e modificar as naves.
Para essa época o programa espacial soviético também estava em sérias dificuldades. A decisão oficial (mantida em segredo) de ir para a Lua se tomou tarde, em 1964. Os primeiros testes da nave lunar, a Soyuz foram feitos as presas, e os resultados foram tão desastrados que acabaram em tragédia: na Soyuz 1, o veterano Vladimir Komarov se matou quando até os paraquedas falharam. O método de pouso dos soviéticos era similar ao americano, com um encontro em orbita lunar entre um módulo lunar e a Soyuz. O veículo de lançamento, o N1 era um pouco menor que o Saturn V: as naves eram menores e menos sofisticadas que as Apollo (aliás, eram só dois cosmonautas: apenas um deles deveria pisar na Lua). O N1 foi testado 4 vezes. Explodiu nas 4 vezes. Em 1974, no meio de intensas brigas internas e a meta erosada, o programa foi formalmente abandonado, tão secretamente como começou.
Em 1968 as Apollos finalmente levantavam vôo. Walt Cunningam, Wally Schirra e Donn Eisele testaram durante 11 dias os sistemas do Módulo de Comando e Serviço. A missão foi chamada Apollo 7. Depois, para o Natal de 68, com o prazo de Kennedy estourando (e com os EUA já com motivos para acreditar num programa lunar tripulado soviético em andamento) veio uma não planejada jogada ousada: teste tripulado do Saturn V, direto para a Lua. Frank Borman, Jim Lovell e Bill Anders se converteram nos primeiros seres humanos em ver ao vivo a face oculta da Lua e a Terra como nunca antes: "uma grande bola de gude azul" (como diz a canção, do compositor de Broadway e escritor Skip Redwine, arranjada por Norman Paris, Copyright © 1973 Alphaventure musicians: D.K. Butterfield, L. J. Mauro, A. Rongo, F. Cerchia, N. Paris, G. Sanfino, cantantes: D. Campbell e J. Olson, lançada como álbum por A & M Records em 29 de dezembro de 1973, popularizada pela serie de televisão infantil "Big Blue Marble", ITT Corporation, New York, 1974-1983. A descrição original parecer ser de Jim Irwin, piloto do módulo lunar da Apollo 15, em "To rule the night: the discovery voyage of astronaut Jim Irwin", com William Emerson, Jr., registrado em 17 de setembro de 1973 pelos autores, editora A. J. Holman & Co., Philadelphia, primeira edição, 1973, página 17. É claro, o primeiro a nós informar que a Terra é azul foi Yuri Gagarin, em 12 de abril de 1961). Depois de dez alucinantes órbitas a 100 km de altura começavam o regresso à Terra. Três dias depois, a cápsula se chocava a 40 000 km/h contra a atmosfera, com eles dentro. Como calculado, o escudo térmico os protegeu. Em Apollo 9, em março de 1969, James McDivitt e Russell Schweickart foram os primeiros astronautas em testar o módulo lunar (batizado de "Spider"), em volta da Terra, enquanto David Scott permanecia no Módulo de Comando e Serviço "Gumdrop". Dois meses depois o Saturn V, funcionando em toda a sua capacidade, lançou a Apollo 10 para a Lua: era o ensaio geral. Tom Stafford e Gene Cernan desceram no Módulo Lunar "Snoopy" até apenas 14 km da superfície lunar, enquanto John Young aguardava no Módulo de Comando e Serviço "Charlie Brown". Tudo estava pronto, o caminho estava feito. Os últimos 14 km seriam para a Apollo 11.
Agora a Ciência esbarrou na Mitologia. Um homem estava por tocar a lua! Escolher o primeiro ser humano que pisara num outro mundo não é um assunto trivial. A História se desenvolve de maneiras estranhas: num ponto do Programa parecia que o comandante estava pré-selecionado a voar na missão anterior ao primeiro pouso lunar, num outro momento, na missão posterior, mas eventos como o fogo na Apollo 1, a mudança de objetivo para a Apollo 8 e atrasos no desenvolvimento do módulo lunar o colocaram no meio; seu piloto do Módulo Lunar conseguiu o seu caminho para uma vaga em Apollo porque outro astronauta, o seu vizinho, morreu tragicamente num acidente de avião; e o piloto do Módulo de Comando e Serviço perdera um assento num vôo espacial anterior por um problema médico, o que empurrou ele mais para frente na linha de missões até a Apollo 11. Mas conseguir ser um dos escolhidos para voar em qualquer uma das missões Apollo também não era trivial. Os três estavam no final dos trintas e tinham mulher e filhos. O comandante Neil Armstrong, um civil, era um engenheiro aeronáutico e piloto de testes que ajudou a desenvolver o avião X-15 da NASA, até hoje o avião que voou mais rápido e mais alto no mundo. Era um veterano da Gemini 8, missão do primeiro acoplamento entre naves, onde passou por uma emergência e teve que voltar mais cedo devido a defeitos com os controles. Deke Slayton, o chefe dos astronautas, falou para eles que ele sairia primeiro do Módulo Lunar "Eagle" basicamente porque era mais fácil sair pela escotilha do lado dele. O seguiria minutos depois o piloto do módulo lunar, o coronel da Força Aérea Buzz Aldrin, piloto de caças e engenheiro com um doutorado em Astronáutica pelo M.I.T., onde desenvolveu o método matemático que poderia ser usado como reserva aos computadores para garantir o acoplamento orbital. Era o astronauta com mais experiência em atividades extra-veiculares: mais de 5 horas durante a missão Gemini 12. O piloto do Módulo de Comando e Serviço Michael Collins, engenheiro aeronáutico e piloto de testes da Força Aérea também era um veterano das Gemini, e por causa da indicação anterior perdida, tinha treinado duas vezes para a sua tarefa.
Na manhã de 16 de julho de 1969 começou a viagem mais fantástica na história da Humanidade. Um milhão de pessoas assistiram a decolagem do gigantesco Saturn V de Cabo Canaveral. Três dias depois estavam chegando em praias estranhas. Armstrong e Aldrin entraram no módulo lunar e começaram a descida e Collins ficou atrás no "Módulo Columbia". Segundo os especialistas, o pouso no Mar da Tranquilidade era a parte mais perigosa da missão. Depois de problemas menores com uma antena de comunicação e alarmes de sobrecarga de computador, já a poucos metros do solo veio o mais temido. O ponto para onde estavam prestes a pousar estava cheio de pedras. Se Armstrong não conseguisse achar bem rápido um lugar adequado para pousar o combustível do estágio de descida se acabaria e deveriam abortar a missão ou morrer na queda. Com a luz de quantidade de combustível acesa, pousaram suavemente. Armstrong enviou a frase esperada (transcrição corrigida disponível em "Apollo Lunar Surface Journal", http://www.hq.nasa.gov/alsj): "Houston, aqui Base Tranquilidade. O Eagle tem pousado". Estava feito.
Horas depois, na noite de 20 de julho, o mundo assistia ao vivo pela televisão quando Neil Armstrong desceu pela escada, pisou na Lua e falou as palavras imortais: "Esse é um pequeno passo para (um) homem; um gigantesco salto para a Humanidade" ("Apollo Lunar Surface Journal", http://www.hq.nasa.gov/alsj). Depois de recolher rapidamente algumas amostras e passá-las para Aldrin, este desceu também. Juntos exploraram esse mundo de luzes e sombras estranhas, sem som, onde o peso das coisas e os movimentos são diferentes e o céu é por sempre preto. Realizaram experimentos, recolheram amostras, e se maravilharam da paisagem. Duas horas e meia depois já deviam partir.
Quando chegaram à Terra foram colocados imediatamente, ainda no porta-aviões Hornet, num container especial para cumprir a estrita quarentena. Ninguém podia descartar a possibilidade de algum tipo de contaminação por microrganismos lunares. Três semanas depois saíram, e viram que nada tinha sido sonho. Foram aclamados como heróis, não só nacionais mas mundiais. Fizeram uma turnê por 24 países e em todo lugar as pessoas queriam vê-los, queriam tocá-los. Os três são personagens da história para sempre.
A Apollo 12, em novembro, já poderia ficar mais tempo na Lua do que a pioneira. Pete Conrad e Alan Bean pousaram o módulo lunar "Intrepid" a menos de 200 metros de uma Surveyor, que chegou no Oceanus Procellarum anos antes deles. Recolheram algumas peças expostas a intempérie e uma boa quantidade de amostras lunares, enquanto o companheiro Richard Gordon esperava no "Yankee Clipper".
A Apollo 13, abril de 1970, foi a origem da frase "Houston, temos tido um problema.". Um tanque de oxigênio explodiu no módulo de serviço, deixado-os sem eletricidade. A descida na Lua foi cancelada, e pouco depois era evidente que até a volta a Terra de Jim Lovell, Fred Haise e James L. Swigert estava comprometida. Ajudados por um exército de engenheiros e cientistas na Terra, utilizaram o módulo lunar "Aquarius"como barco salva-vidas e como rebocador do inerte módulo de comando "Odyssey" e seu vital escudo térmico. Depois de passar 4 terríveis dias de frio e sede e de um desgaste psicológico tremendo, os paraquedas se abriram brilhantemente no céu do Oceano Pacífico. Isto lembrou a todos que apesar dos espetaculares triunfos da Apollo cada viagem espacial era coisa difícil, séria e perigosa e não nenhuma rotina.
Quando o programa voltou a estar operacional, um ano depois, Apollo 14 completou a missão da Apollo13 às colinas de Fra Mauro. Alan Shepard, o primeiro americano no espaço, e Ed Mitchell puxaram a mão um carrinho para levar instrumentos científicos e explorar áreas maiores. Depois, Stuart Roosa com a nave de comando "Kitty Hawk" recolheu aos tripulantes do módulo "Antares" para a traze-los para casa.
Na Apollo 15, em julho e agosto de 1971, o conceito do carrinho de mão se converteu num carro lunar para David Scott e James Irwin. Com ele se afastaram muitos quilômetros do módulo "Falcon" e exploraram a região de Hadley-Apeninos. Acima Alfred Worden utilizava um pacote de sensores a bordo da nave de comando "Endeavour" e até soltava um sub-satélite.
Na Apollo 16 com as naves "Casper" e "Orion" John Young, Charles Duke e Ken Mattingly estudaram as terras altas ao norte da cratera Descartes em abril de 1972. Young e Duke também utilizaram um carro lunar nas suas explorações. A quantidade de amostras lunares trazidas era cada vez maior.
Finalmente, em dezembro de 1972 meio milhão de pessoas assistiram à decolagem noturna da última viagem de astronautas à Lua. Novidade na missão Apollo 17 era que junto com Gene Cernan e Ronald Evans viajava um cientista, o geólogo Harrison "Jack" Schmitt. Até ali só tinham viajado pilotos, com diploma de engenharia ou equivalente. Assim, o primeiro cientista na Lua também seria o último homem em desembarcar lá. Mas a 17 também foi uma das missões mais produtivas. Nos 3 dias que passaram na superfície lunar em Taurus-Littrow, Cernan e Schmitt recolheram mais de 100 kg de rochas e solo, alguns bem estranhos, e realizaram boa quantidade de experimentos. Finalmente depois de que Cernan fechou a escotilha do módulo "Challenger" para reunir-se com o "America", nenhuma outra pegada humana foi estampada na Lua até hoje. Não se tem previsão de quando acontecerá de novo isto, nem quem será.
Apollo confirmou, especialmente com seu tesouro de quase 400 kg de material da Lua, que esta é um mundo muito antigo, tanto quanto a Terra (aliás, com esses dados foi possível calcular a idade de nosso planeta e até do Sistema Solar, em mais de 4,5 bilhões de anos). Talvez, no passado ela foi parte da Terra, passando a orbitá-la a partir dos restos resultantes de alguma violenta colisão. A Lua é um mundo morto, e ela já está assim faz muito tempo. Ter um registro de mudanças no Sistema Solar através da eras praticamente intacto, o qual serve para calibrar a idade de outros planetas e satélites do Sistema Solar. A maior parte do que sabemos hoje acerca da Lua é devido as Apollo. A Apollo até cumpriu com os objetivos políticos, os militares, os econômicos, os científicos e os tecnológicos idealizados por Kennedy. Mas como disse Neil Armstrong numa entrevista divulgada pela CNN no 30 Aniversário do começo da viagem Apollo 11, o maior sucesso das missões Apollo foi fazer muita gente sonhar que as nossas oportunidades não tem limites. Agora as nossas metas vão certamente mais além do que a própria Lua, pois a Humanidade não está mais inescapavelmente presa a um só planeta.
A. L.
S. C., SP, 28 de janeiro de 2001.
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A partir de uma palestra ministrada na USP, originalmente em 22 de novembro de 2000. Publicado originalmente pela UNICAMP, de documento datado em 28 de janeiro de 2001. Uma versão resumida foi publicada em ABC Color, em 23 de julho de 2006. Fotografia: O transportador carrega o veículo espacial Saturn V / Apollo 12, de 111 m de altura, no começo da rolagem de 5,6 km desde a Baia Alta 3 do Prédio de Montagem de Veículos até o Complexo de Lançamento 39A, no dia 8 de setembro de 1969. Crédito: NASA.